domingo, 21 de junho de 2015

Rafael Martini sobre a Serra Catarinense: "O diamante bruto está lá. Cadê o lapidador deste brilhante?"

Rafael Martini sobre a Serra Catarinense: "O diamante bruto está lá. Cadê o lapidador deste brilhante?"



Santa Catarina tem uma joia chamada frio, com potenciais garimpos a serem explorados por todo o Estado entre os meses de junho e setembro. Só para esta temporada de inverno são esperados 300 mil turistas, de acordo com estimativa da Secretaria de Estado da Cultura, Esporte e Turismo. É muita gente em busca de neve (uma boa geada também já quebra o galho), lareira, mesa farta e um bom vinho. Basta os termômetros despencarem para SC ganhar destaque em rede nacional nos quadros de previsão do tempo. Nesse quesito, as temperaturas registradas no Morro da Antena, em Urupema, são imbatíveis. Logo, o diamante bruto está lá. Mas até hoje, entra ano sai ano, a discussão é sempre a mesma: por que não conseguimos alcançar o padrão oferecido em Gramado, na Serra Gaúcha? Cadê o lapidador deste brilhante?
A cada comparação entre as estruturas disponíveis para o turista nos dois Estados, mergulhamos numa espécie de complexo de vira-latas, expressão cunhada pelo mestre Nelson Rodrigues ao falar do sentimento de inferioridade dos brasileiros em 1950, quando a Seleção Brasileira foi derrotada na final da Copa do Mundo em pleno Maracanã. Pano rápido: imagina o que ele diria dos sete a um para a Alemanha? Melhor deixar pra lá.
"Um turista encantado tende a voltar outras vezes. 
Sem questionar nem sequer o preço."
Aliás, não há demérito nenhum em mirar um exemplo como Gramado, cidade com 34 mil habitantes e que recebe milhares de turistas todos os anos. Se é para buscar referências, que seja um padrão de excelência. Lá, um casal pode gastar R$ 400 num jantar com fondue e vinho sem reclamar. São seduzidos pelo ambiente. Do serviço à hotelaria, passando pela variedade de restaurantes e equipamentos de lazer para todas as idades.
Voltando à vaca fria – desculpe, não resisti ao trocadilho –, é importante lembrar que muita coisa tem sido feita no Estado. Em especial pela iniciativa privada, que já oferece 4 mil leitos na Serra. Um recorte dos últimos 15 anos mostra que as melhorias no turismo de inverno em SC são exponenciais. Cidades como Urubici já descobriram o caminho das pedras. Hoje o município possui metade das 65 pousadas disponíveis na região e tem se especializado neste segmento. O mesmo não se pode falar de São Joaquim, que ainda patina em quesitos básicos, apesar dos esforços isolados.
Uma grande aposta para os próximos anos passa também pelo enoturismo. São 28 vinícolas pelo Estado com um trabalho fortíssimo de divulgação e que tem atraído cada vez mais interessados. Mesmo assim, é duro é explicar ao visitante curioso em conhecer a produção de vinhos na Vila Francioni, em São Joaquim, que depois ele terá de enfrentar 50 quilômetros de estrada totalmente esburacada na SC-390 para chegar à serra do Rio do Rastro, considerada recentemente como uma das mais belas do mundo. O viajante a passeio, seja brasileiro ou estrangeiro, busca paisagens que mexam com os seus sentidos, aliadas ao atendimento de qualidade. Um turista encantado tende a voltar outras vezes. Sem questionar nem sequer o preço. Simples assim. Como o olhar de uma mulher ao ganhar seu primeiro anel solitário.
Texto Diário Catarinense

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